AS PESSOAS ESTÃO CEGAS?

    Meu neto mais novo, o Henrique, de sete anos, orgulho do vovô, mora numa pequena cidade do interior do Paraná. Todos os dias minha filha o leva e busca na escola caminhando. Na cidade há um lago e circundando esse lago um belo parque lacustre, habitado por gansos, mergulhões, quero-queros, curicacas e mais um grande número de pássaros e outros animais. Aquele parque, assim como ocorre aqui em Ourinhos, sofre a ação impensada de pessoas que vão passear no local e por lá mesmo vão deixando as provas da sua falta de educação e de compromisso com o ambiente. São garrafas, embalagens de lanches, sacos plásticos, canudos e muitas outras coisas que poderiam ser descartadas em locais apropriados, mas que ficam espalhados no gramado e dentro do lago. Aqui neste mesmo blog, em abril de 2021, escrevi o texto “EXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS”, no qual descrevo a situação do lago próximo ao condomínio Royal Park, que virou depósito de lixo de toda espécie.

Dia desses minha filha e meu genro foram buscar o filho na escola no fim da tarde e vinham caminhando em torno do lago, quando o Henrique, em certo momento lançou a seguinte pergunta: As pessoas estão cegas? Como assim? perguntou o pai. Será que essas pessoas não veem que gansos e mergulhões vivem neste lago, e ficam jogando lixo? disse o Henrique. Vale aqui, lembrar, que uma garrafa pet lançada no ambiente, leva pelo menos 600 anos para se decompor, e que a degradação que causa pode ser irreversível.

O episódio, além do orgulho causado aos pais e avós, me levou a pensar em todos os tipos de lixo, além dos detritos físicos, que podemos espalhar por aí.

No último sábado, véspera da eleição, eu andava de carro pelo centro da cidade e na minha frente ia um carro do qual eram despejados no asfalto centenas, talvez, milhares, de santinhos de um candidato a deputado estadual. Não tive dúvidas e emparelhei com o tal carro e falei que a motorista e o passageiro precisavam respeitar um pouco o ambiente e parar de fazer aquilo. A resposta foi de que era propaganda eleitoral. Retruquei que o papel no chão era lixo e que o candidato devia ser tão lixo quanto o papel.

No domingo, 02/10, as ruas próximas às sessões eleitorais amanheceram forradas de papel, ou seja, lixo.

Na segunda-feira, passada a eleição, conversando com colegas no trabalho, um deles disse que viu uma cena em que uma eleitora pegou um santinho do chão e disse que iria votar naquele candidato, já que não tinha nenhum outro. Minha conclusão, foi a de que aquela pessoa pegou o lixo do chão e jogou dentro da urna, e que todos os lixos que foram eleitos para os diversos cargos em disputa, assim como as garrafas pet, podem causar danos enormes ao Brasil, e que isso pode levar anos, décadas, até, para serem corrigidos, sendo que alguns desses danos podem ser irreversíveis. Num passado recente aprovou-se uma reforma na legislação trabalhista, que extinguiu diversos direitos dos trabalhadores, sob o argumento de isso iria resultar em maior número de empregos e maiores ganhos para os trabalhadores. O que vimos, no entanto, foi o Brasil voltar ao mapa da fome.

Ouvi de um expoente do conservadorismo, que o Congresso teve nessas eleições um salto de qualidade, e concluí que isso realmente é verdade. Estávamos à beira do abismo e demos um enorme e suicida salto no escuro. A qualidade caiu muito.

Temos mais algumas semanas de campanha eleitoral pela frente. Presidente da República e Governador do Estado ainda não foram definidos. Precisamos decidir se queremos de volta um Brasil onde a democracia e o respeito sejam preponderantes, ou se queremos continuar caminhando rumo ao arbítrio e à barbárie.

Pergunto agora: AS PESSOAS ESTÃO CEGAS?

Comentários

  1. Que excelente reflexão. Precisamos urgentemente retomar à consciência sobre a importância da visão na realidade política, incluindo ambiental. Precisamos pensar no legado que vamos deixar para a geração do Henrique e outras futuras.

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  2. Misericórdia! As pessoas não estão cegas. É que 80% delas só usam o cérebro reptiliano, aquele famoso cérebro primitivo! Aqueles que não saíram do paleolítico ainda. Prova disso é esse Congresso.

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  3. Excelente texto Durval! Seu neto de 7 anos enxerga as barbáries e descaso com nosso meio ambiente . Exemplo e respeito vêm de casa.

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  4. Primeiro de Tudo, deixo aqui o meu orgulho pelo meu sobrinho neto, Henrique, menino lindo e inteligente e muito amado e admirado por todos nós na família.
    Agora, falando sobre o excelente texto. As pessoas estão cegas , surdas e poderia se dizer , mudas também, se não fosse a enxurrada de besteiras que saem da boca de alguns 43% de brasileiros. O Brasil deu mesmo um salto, mas para o abismo.e muitos eleitores apanharam os lixos no chão e jogaram na urna. Lamentável.!

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