SOBRE GANSOS E JACARÉS

Há quase um mês escrevi o último texto para este blog. Abordei um tema eminentemente político, e, como era de se esperar, agradei muito a algumas pessoas e desagradei, também muito, muito a outras. Era de se esperar, mas eu não esperava.

Fiquei tão incomodado com isso, que embora tivesse muitos assuntos para abordar em novos textos, fiquei preocupado com os possíveis, ou melhor, inevitáveis, desagrados.

Há alguns dias a Tânia me perguntou se eu não iria escrever mais. Disse-me que havia tantos assuntos a abordar, especialmente pela situação que o país vive.

Eu a tranquilizei e disse que estava inclusive pensando em escrever sobre a discussão que tomou o Brasil nas últimas semanas, a respeito da realização, ou não, das eleições de 2022, por causa das ameaças do Presidente da República, caso seus desejos não sejam realizados. Afirmei, porém, que não abordaria o assunto de forma direta, mas escreveria um conto sobre um grande condomínio, com 27 edifícios, onde o síndico geral, numa tentativa de se manter no cargo por mais um mandato, ameaçava a realização das eleições, arrebanhando moradores a seu favor e, de outro lado, criando adversários ferrenhos.

Disse que escreveria, mas não escrevi. Nem vou escrever. Não que o assunto não me incomode, já que mantenho firme minha opinião de que tentam atacar a democracia brasileira, mas não quero escrever sobre o assunto.

Chegou o momento de alguém perguntar:

- O que tudo isso tem a ver com gansos e jacarés?

Então! No último domingo saímos cedo para caminhar em torno do lago e no meio da caminhada vimos os gansos que ali habitam nadando candidamente. Eram até algumas semanas atrás em torno de 20 gansos adultos que sempre nos encantaram por sua beleza e pelo fato de fazerem tudo juntos, diferentemente dos patos que também existem ali em grande quantidade, mas normalmente estão isolados ou em grupos muito pequenos.

O bando de gansos aumentou muito. Consegui contar 18 gansinhos, mas acho que deve ter até mais do que isso. Ficamos alguns minutos observando o comportamento dos adultos que protegiam seus rebentos de forma muito enérgica, e a graça dos gansinhos que tão pequenos já se mostram tão prontos para viver em Sociedade e aceitar as regras que definem essa Sociedade. Sociedade de gansos, é lógico!

O único problema é que apareceu um jacaré no lago, cuja voracidade pode ser um problema para a sobrevivência das aves e pequenos animais que vivem no local. A presença do jacaré não seria um problema se ele fosse nativo do local, mas não é o caso. Alguém deve ter soltado o bicho no lago e ele, com certeza, irá querer se tornar o senhor daquele lago, que não é seu habitat natural. Se fosse, certamente a natureza garantiria o equilíbrio.

Isso me levou a pensar que quando alguém está em algum lugar ao qual não pertença, sua ação pode ser deletéria, caso não queira se adaptar às regras do lugar.

Há quem pense que a melhor forma de se destruir qualquer instituição é solapando suas estruturas por dentro, e é isso que assistimos hoje no Brasil, onde os inimigos da democracia se valeram dela própria para se instalarem no poder e iniciarem um movimento de tentativa de destruição de todo o arcabouço democrático.

O Lago Paranoá tem seu jacaré voraz ameaçando a existência dos organizados gansos.