SUJEIRAS MISTURADAS Um era mecânico, vivia sujo de graxa; o outro era servente de pedreiro, vivia sujo de terra. Um deles, não importa qual dos dois, assim como o outro, sentia os efeitos das dificuldades causadas pela pandemia e pela economia, que os atingiu em cheio. Um deles, não importa qual dos dois, precisava de uma casa, pois estava já há algum tempo sem moradia. Tentara, por diversas vezes, encontrar um teto que o acolhesse, mas sempre acontecia algo de errado. O outro tinha uma casa e estava disposto a dividi-la. Ambos se beneficiariam no negócio. A casa ficava no centro. Bem no centrão, mesmo. O que não tinha onde morar ficou muito feliz com a possibilidade de ter um teto para dividir com alguém, mesmo que isso o obrigasse a viver com as sujidades do anfitrião. Era uma situação muito conveniente. Ele, não importa qual dos dois, embora também vivesse sujo, se considerava limpo. O mesmo sentimento habitava os dias daquele, não importa qual do...
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RE(DES)ENCONTRO O primeiro (des)encontro havia ocorrido há muitos anos. Foram apenas alguns segundos muito intensos. Eram dois ônibus parados na entrada da rodoviária. Um entrando, outro saindo. Em um, ele, chegando. No outro, ela, indo embora. Aqueles poucos segundos em que seus olhares se encontraram acenderam em ambos uma paixão infinda. Ela percebeu isso em si e nele. Ele percebeu isso em si e nela. O primeiro impulso dele, foi ir à administração da rodoviária e perguntar para onde ia aquele ônibus que acabara de sair. O tempo passou, suas vidas seguiram, viveram enlaces e desenlaces, mas sempre com o sentimento de que haviam perdido alguma coisa muito importante. Nenhum dos dois jamais esqueceu aquela paixão abrasadora. Como o tempo não cumpriu seu papel de acalmar seus corações, ambos resolveram, cada um de seu lado, de buscar o objeto do seu desejo. Sem sequer preocupar-se com o que diriam as pessoas, ele anunciou a todos que iria embora. Iria em busca d...
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A GENTE QUER SÓ COMIDA! Contrariando o que diz a letra de “Comida”, de Marcelo Fromer, Sérgio Britto e Arnaldo Antunes, dezenas de milhões de brasileiros querem, ou melhor, precisam urgentemente, apenas e tão somente, comer. Os números da fome no Brasil são alarmantes. Pesquisa realizada pela Rede Penssan, aponta que 24,5 milhões de brasileiros iniciam o dia sem saber se terão algo para comer. Há 20 milhões que afirmam passar 24 horas ou mais sem comer em alguns dias, e 74 milhões relatam se preocupar com a possibilidade de passarem por situação semelhante. Por mais que a sociedade civil se mobilize em campanhas de arrecadação de alimentos, isso não resolverá o problema. Comecei o texto me referindo a uma canção, e vou me valer de outra para dar prosseguimento. O saudoso Gonzaguinha, em “Assim Seja, Amém” diz em um verso: “A professora me repreendia, quem não estuda não come merenda. Mas lá ...
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DIAS DE INDECISÃO Os últimos dias foram de muita indecisão. Com 15 anos, deve-se ou não, vacinar? Pessoas como eu, que não são da área da saúde, normalmente têm que formar suas ideias sobre o assunto, ouvindo quem é especialista, e é aí que mora o problema. Os próprios especialistas divergem muito sobre o tema. Houve, nesse período, especialistas que afirmaram com muita convicção que com 15 anos deve, sim, vacinar, enquanto outros, também especialistas e tão convictos e afirmativos quanto os outros, disseram que não há necessidade de vacina nessa idade, nem em qualquer outra idade. Pesquisei na internet e não consegui tomar uma decisão a respeito, muito, por medo de formar minha opinião com base em fake news, que estão na moda atualmente. Dentro da própria família as opiniões divergiam e de todos os lados fui alvo de acusações. Uns dizend...
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SOBRE GANSOS E JACARÉS Há quase um mês escrevi o último texto para este blog. Abordei um tema eminentemente político, e, como era de se esperar, agradei muito a algumas pessoas e desagradei, também muito, muito a outras. Era de se esperar, mas eu não esperava. Fiquei tão incomodado com isso, que embora tivesse muitos assuntos para abordar em novos textos, fiquei preocupado com os possíveis, ou melhor, inevitáveis, desagrados. Há alguns dias a Tânia me perguntou se eu não iria escrever mais. Disse-me que havia tantos assuntos a abordar, especialmente pela situação que o país vive. Eu a tranquilizei e disse que estava inclusive pensando em escrever sobre a discussão que tomou o Brasil nas últimas semanas, a respeito da realização, ou não, das eleições de 2022, por causa das ameaças do Presidente da República, caso seus desejos não sejam realizados. Afirmei, porém, que não abordaria o assunto de forma direta, mas escreveria um conto sobre um grande condomínio, com 27 edifíci...
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O QUE FAZ, OU NÃO FAZ, UM GENOCIDA? Assisti ao filme “QUO VADIS, AIDA”, que retrata um episódio sangrento da história. A guerra deflagrada após o fim da federação Iugoslava, produziu, segundo estimativas, 200 mil mortos e 2 milhões de refugiados, entre 1992 e 1995. No filme é contado um episódio, já no final daquela guerra, em que num único dia o regime liderado pelo presidente Sérvio Slobodan Milosevic, que ficou conhecido pela alcunha de Carniceiro dos Balcãs, exterminou quase 9 mil habitantes de Srebrenica, uma pequena cidade que contava na ocasião com cerca de 30 mil habitantes (hoje tem menos de 3 mil), em mais um ato daquilo a que se deu o título de limpeza étnica. Milosevic morreu no cárcere antes de seu julgamento por crimes de guerra. Milosevic é o exemplo mais claro do que uma pessoa faz e que lhe garante o título de genocida: Mata ou manda matar seres humanos. Vamos agora pensar no que uma pessoa não faz e ainda assim lhe garante o título de genocida. A pan...
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Hoje de manhã eu acordei, abri a janela do quarto e fiquei muito feliz de ver que o dia estava enevoado. Uma espessa camada de neblina não me permitia enxergar quase nada. Escondia, principalmente, o Sol com sua luz e seu calor plenos de vida. Pode parecer estranho alguém ficar feliz com um dia nublado, mas acontece que, apesar de não ver o Sol, eu sei que ele continua firme em seu lugar, aguardando uma oportunidade de irradiar sua luz sobre nós. Mais do que isso, eu sei que pelo fato de o dia estar nublado, há grande probabilidade de ver o espetáculo de um arco-íris no céu assim que o Sol conseguir uma brecha e se mostrar para nós. Como mosaicista amador tenho especial carinho pela harmonia proporcionada pelas cores e não há nenhuma delas de que eu goste menos ou mais. Quanto maior a profusão cores, maiores as possibilidades de se retratar o mundo. Contrastes podem nos mostrar o quanto cada cor tem de beleza em si mesma, enquanto os dégradés nos indicam que entre uma e outr...
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FARENHEIT 451 E O PICAPAU AMARELO 451 graus farenheit é a temperatura em que o papel se queima. Aproximadamente 228 graus celsius, a que estamos mais acostumados. É também o título do livro de Ray Bradbury, de 1953. Uma distopia em que os livros e toda forma de escrita são proibidos por um regime totalitário, que prende e manda para reeducação quem for flagrado lendo, e que queima as casas de quem possui muitos livros. A história foi magistralmente filmada em 1966 por Francois Truffaut e refilmada em 2018 por Ramin Bahrani. Em 1933, vinte anos antes do livro de Bradbury, o regime nazista da Alemanha promoveu a queima de milhares de livros de autores considerados inconvenientes pelo governo de Adolf Hitler, nos mostrando que a realidade pode ser pior do que qualquer ficção distópica. Quase dois milênios antes a Biblioteca de Alexandria foi incendiada e teve destruídas quase 40.000 obras. Mas, por que evocar esses dois acontecimentos reais ...
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VOA, FERNANDO Há pouco mais de um mês a Tânia me disse que havia visto um beija-flor no quintal, mas que ele não havia ficado muito tempo, por causa do Zezinho, nosso gato. Passaram-se alguns dias e a ouvi toda excitada, na cozinha, dizendo que o bicho havia voltado e estava sugando o néctar das flores de um vaso que temos lá no fundo. Mais uma vez o quase onipresente Zezinho espantou o beija-flor, embora, não tenha sido essa, na verdade, sua intenção. O que ele queria mesmo era capturar o lindo colibri. Puro instinto de caçador. A cena se repetiu durante alguns dias, sem que em nenhuma das ocasiões eu conseguisse chegar a tempo de desfrutar o espetáculo do gracioso voo do pássaro multicolorido. O ilustre visitante nos levou a planejar a compra de alguns vasos a serem instalados bem no alto, de forma a que ele possa continuar a se alimentar das nossas flores, sem que o incansável Zezinho consiga alcançá-lo. Não houve sequer um dia, desde a primeira visita, em que...
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SEGUNDO DOMINGO DE MAIO - Quer vir no colo? ...... - Não solte a minha mão, para não se perder. ...... - Cuidado quando for atravessar a rua. Olhe para os dois lados e só atravesse quando não vier nenhum carro. Ah, e não corra, pois você pode tropeçar e se machucar. ...... - Me deixe ver essas orelhas. Estão sujas, volte lá e lave de novo. ...... - Só pensa em doce! ...... - Você não vai querer dormir com os pés sujos desse jeito, né? ...... - Agora que entrou na escola vai ter mais responsabilidades. ...... - Já fez a lição? Se não estudar não vai conseguir ser nada na vida. Enquanto não terminar seu dever de casa não vai brincar. ...... - Tchau, estou indo para a reunião da escola. ...... - Não adianta querer me agradar encerando o quarto. Vai apanhar do mesmo jeito. Onde já se viu cabular aula! ...... - Não brigue com suas irmãs. ...... - Isso são horas de voltar pra casa? Está pensando que já é gente grande? ...... - ...
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ANTIGAMENTE, NO MEU TEMPO E NO TEMPO DE O Antonio Passos deixou um comentário à minha postagem anterior, que termina com a expressão “Gente dos antigamente!” , e que me deu o mote para este texto. Quando eu era criança, ou seja, antigamente, ao ouvir os adultos falarem sobre antigamente, eu ficava tentando imaginar de que tempo ou tempos estavam falando. Uma coisa que me intrigava era sobre a quantidade de “antigamente” que existia. Havia os dos meus pais, os das pessoas mais velhas do que eles, até crianças mais velhas do que eu, de vez em quando se referiam a “antigamente”. Cheguei à conclusão lógica, mas só agora me dou conta disso, que cada pessoa tinha o seu “antigamente” particular, além de compartilhar diversos “antigamente” com outras pessoas. Minha mãe, por exemplo, tinha um antigamente só seu, pois quando se referia a ele, até meu pai, que lhe era contemporâneo, se admirava de coisas que ela dizia, o mesmo acontecia com ela, em relação ao “antigamente” do meu pai....
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SEMANA INTENSA Eu nunca havia pensado em escrever um diário, porém fui compelido a abordar os acontecimentos marcantes que vivi n a semana passada. Foram várias circunstâncias que tornaram a minha semana muito especial. A segunda, dia 19 foi meu último dia de férias, em que, embora não tenha saído de casa, pude dedicar tempo a algumas atividades prazerosas, como leitura, filmes e mosaicos. Nas noites de 19, 21, 23 e 25 participei de um curso de mosaico gentilmente conduzido pela Luciana Mussini. Oportunidade de troca de experiência e de grande aprendizado sobre a arte do mosaico. Na quinta pela manhã fui receber a minha dose da vacina contra a COVID-19. Experiência única! Cheguei muito cedo no Drive Thru e fiquei contando ansiosamente os minutos que faltavam para o grande momento. Quando, por fim, chegou a minha vez eu me senti como aquele jogador que na final do campeonato faz o gol da vitória do seu time. Fiquei com vontade de sair correndo com os braços abertos par...
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SERÁ QUE VAI PEGAR? Hoje me pus a pensar nisso de forma insistente. Lembrei-me da minha infância, quando minha mãe me levava para tomar vacina contra a varíola que era aplicada com um pedaço de vidro cujo nome não sei. Arranhavam meu braço com esse vidro e imagino que colocassem a vacina no ferimento produzido. Os dias seguintes eram dedicados à expectativa de saber se a vacina ia ou não ia pegar. Quando o local da aplicação ficava inflamado e doendo minha mãe ficava feliz da vida e dizia exultante: Pegou! Eu não conseguia entender como é que alguém podia ficar contente com algo que me trazia dor e desconforto. Não sabia ainda, que aquilo era o sinal de que vacina havia produzido o efeito que dela se esperava, que era trazer proteção contra a varíola, que na antiguidade impingiu muito sofrimento à humanidade. Consta que em 460 AC, por exemplo, a varíola dizimou um terço da população da Grécia. Amanhã será o dia em que finalmente vou tomar a vacina contra a COVID-19, q...
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EXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS Por esses dias tive a prova de que o brasileiro, pelo menos parte dele, pelo menos parte do povo Ourinhense, é generoso e cordial. Numa caminhada matinal de pouco mais de 40 minutos nas imediações do lago próximo do condomínio Royal Park, pude comprovar isso em várias oportunidades. A Prefeitura fez naquele local uma ciclovia, uma pista de caminhadas, instalou algumas mesas e bancos de concreto, além de alguns cestos de metal com sacos plásticos dentro, cuja utilidade eu desconheço. A primeira prova da generosidade dos frequentadores do local eu vi em cima de uma das mesas. Quatro garrafas de cerveja long neck, duas embalagens de lanche de uma rede mundialmente famosa e alguns sachês de catchup e mostarda me levaram a concluir que duas pessoas passaram naquele local alguns momentos maravilhosos, batendo papo, observando a natureza ao redor, saboreando um lanche delicioso e tomando uma cervejinha geladíssima, que com toda a certeza merece...
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PASSEIO NA PANDEMIA Esta semana tem sido terrível. Já tivemos dois dias com mais de 4 mil mortos por COVID-19, a vacinação caminha a passos lentos, faltam insumos para produção de novas vacinas, não há leitos disponíveis em hospitais, amigos, parentes e conhecidos são acometidos pela doença e alguns morrem. Pessoas mais velhas morrem mais fácil, mas não tem sido nada difícil morrerem jovens também. Some-se a tudo isso um governante máximo que nega a existência da pandemia, troça dos doentes, minimiza as mortes e age o tempo todo como se ainda estivesse sobre um palanque, para que o quadro se agrave ainda mais. Mais próximo de nós, o governador do Estado adota medidas mais duras no combate à transmissão do vírus, porém, mais próximo ainda, o prefeito parece não dar a mínima para isso. Há, em todos os níveis, interesses mais importantes a atender, do que a guerra contra o vírus. Quando chega o fim do dia, depois de exposto a um número absurdo de informações, a maioria delas nada bo...
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LADO ALADO – A IMAGINAÇÃO PRECISA VOAR A criação deste blog eu devo à dupla Kleiton e Kledir. Já, já eu explico o porquê. Durante alguns anos, uns 7 ou 8 no total, escrevi para jornais de Ourinhos. Isso durou até as vésperas da eleição de 2018. Nas colunas que mantive nos cinco jornais para os quais escrevi, abordava assuntos os mais diversos. Política, costumes, artes e algumas crônicas. Tenho especial carinho pelas crônicas, pois elas têm, geralmente, leveza e bom humor. Nesses quase três anos sem escrever ensaiei por diversas vezes uma retomada dessa atividade tão prazerosa, mas sempre resisti a voltar aos jornais, por razões que nem eu mesmo sei explicar. Meu propósito passou a ser, então, criar um blog na internet e nesse espaço publicar os meus escritos. ...